sábado, 24 de setembro de 2011

Brasileiro, o torcedor ingrato

Vocês se lembram daquele sujeito legal, corredor de F1, nascido na Zona Norte de São Paulo em 1960, tricampeão mundial na categoria pela McLaren Honda, que teve a carreira - e a vida - encerradas tragicamente em 1o. de Maio de 1994?

É claro que estamos falando de Ayrton Senna da Silva, o eterno ídolo, campeão e motivo de orgulho brasileiro. Dentre as inúmeras frases célebres de Senna, para ilustrar este tópico, vou citar uma: "Brasileiro só aceita título se for de campeão, e eu sou brasileiro".

Pois bem, tenho ouvido pessoas dizerem que já não estão acompanhando o campeonato deste ano, porque ´este já é do alemão, outro alemão, só me faltava essa...´ e me lembrei do quanto o torcedor brasileiro é passional, e por muitas vezes, absolutamente ingrato. Não apenas na F1, mas em todas as esferas do esporte, a gente só quer ver brasileiro vencendo. Se não vencem, já são odiados e por muitas vezes, motivo de chacota.

Parece que é só nesta hora que somos patriotas. Absurdo. Ou então, outras pessoas parecem proteger seus ídolos. A palavra vice campeonato parece simplesmente não existir no vocabulário tupiniquim. Felipe Massa foi vice em 2008, em um campeonato fantástico, disputou curva a curva com Lewis Hamilton até cruzar a linha de chegada em Interlagos levando, por poucos segundos, o título de campeão mundial. O título acabou ficando com o inglês, e Massa passou a ser considerado por muitos como ´campeão virtual de 2008´. Campeão virtual? Gostaria muito de entender essa explicação. Já ouvi o mesmo termo em relação a Barrichello, no campeonato 2009.

Rubinho já foi vice. Pela Ferrari, pela Brawn GP e Massa também ostenta um vice campeonato pela Ferrari. Poucos se lembram. Mas, isso é muito. É uma dificuldade tremenda chegar à F1. Pontuar então, já é uma glória. Vencer uma corrida é dificílimo e um campeonato, nem se diga. Boa parte dos torcedores brasileiros foi ´mimada´ por aquelas fantásticas e inesquecíveis manhãs de domingo. Muita gente acha que ´temos´ que ter outro Ayrton e ponto final.

Um vice campeonato conta muito no currículo desses pilotos fantásticos e o número de pontos acumulados por Felipe Massa e Rubens Barrichello é sim de se impor respeito. Bruno Senna também está fazendo muito bem a parte dele. Em que pese ser comparado ao tio e ter uma enorme pressão por parte da equipe, por parte dele próprio, já começa a ter um país inteiro nas costas, ´seco´ e carente de resultados, vitórias, campeonatos.

Bruno parece lidar muito bem com a pressão. Felipe Massa também. Acho que o sobrinho de Ayrton está fazendo o dever de casa excelentemente bem. Ele comete poucos erros, aparece, consegue ser mais rápido que seu companheiro de equipe. Até a batida na primeira curva em sua estreia pela Renault, acabou sendo bem vinda. Ele fez uma ótima corrida de recuperação, já esteve duas vezes no Q3, a parte final da classificação de sábado e constantemente é mostrado pelas câmeras de tv da FIA, para o mundo todo.

As vezes em que Rubens chegou a enfrentar Schumacher, foram maravilhosas. É claro que todo brasileiro sente orgulho e quer mesmo ver esse tipo de coisa. As vitórias de Fittipaldi, as disputas e as dobradinhas de Senna e Piquet, entraram para os anais do automobilismo mundial mas, todos eles também cometeram erros, perderam pontos preciosos, corridas ganhas e saíram das disputas de campeonatos, ora por serem um pouco agressivos demais, ora por estarem sob absoluta pressão.

Portanto, crucificar os brasileiros é um verdadeiro sacrilégio. O título deste ano está merecidamente nas mãos de Vettel e a briga, da segunda posição para trás, está incrível.

Anotem aí, outros dois nomes já respeitados na F1 e que têm tudo para incomodar nas próximas temporadas: o mexicano Perez e o japonês Kobayashi, ambos da Sauber.

O nível dos pilotos atuais não deve nada ao nível dos pilotos de outras épocas, sempre citados pelas pessoas. Simples assim.